segunda-feira, 12 de março de 2012

A HISTORIA DE FERNANDA

Fernanda já tinha passado por vários empregos ... durar não durava muito. Tinha essa mania. Ficava uns meses em cada lugar. Depois, parece que cansava. Ia embora. Partia pra outra, como dizem.

Já tinha até voltado para antigos trabalhos.

No ultimo mês, Fernanda estava de novo nessa mesma vibração.

Estava empregada na Pernambucanas da rua Teodoro Sampaio - lá para os lados de Pinheiros. Só que sua vontade era voltar a trabalhar em uma loja de roupas " de marca".
Alias, não entendo porque as pessoas tem o costume de usar esse termo - até roupa de camelô tem aquelas etiquetas dentro com a marca da confecção.

Mas era isso. Ela de novo estava querendo trocar de emprego. Queria ir para uma loja mais elitizada, mais chic. Mais mais.

Como não parava mesmo em nenhum lugar, Fernanda conhecia muita gente da area de vendas de roupas, até porque passava por 2 ou até 3 empregos em um ano.

Quando sobrava um tempo, ela marcava de encontrar com algum amigo vendedor de outras lojas na praça de alimentação do shopping para trocar figurinhas, saber como andava o mercado, ouvir os nomes de lojas que iam inaugurar. Ela sabia de todas as novidades sempre de antemão.

E tinha uma coisa que ela não conseguia segurar, além de sua permanencia nos empregos.
Ela se apegava muito rapido aos seus colegas de trabalho.

Adorava o Valtinho, que era um gay muito do divertido. Ele atendia as clientes com muito bom humor e os dois riam bastante durante o dia. Principalmente aos sábados. Esse era o pior dia porque eles já vinham cansados da semana e tinham que aguentar o sabadão, o dia mais tumultuado. E é por isso mesmo que se não fosse o Valtinho, ela não ia ter aguentado nem esses 5 meses na Pernambucanas.

E foi o próprio que indicou Fernanda à vaga de emprego na Animale do Shopping Cidade Jardim.

Vocês devem ter pensado: nossa, das Pernambucas da Teodorão para a Animale do Cidade Jardim. Mas é que Fernanda não era pouca coisa não.... Já tinha passagens pela Brooksfield, M.Officer, Zoomp, entre outras. Assim como já tinha trabalhado alguns meses na Renner e tambem Lojas Casado, de calçados. Eclética nossa heroína.

Bom, o fato é que lá foi Fernanda de novo mudar de emprego.
Na primeira semana na Animale, reaprendeu de tudo. Da agua para o vinho. Do sintetico para a seda pura.

Mas ela sentia falta dos seus amigos. Principalmente do Valtinho, com quem dividia na segunda feira todos os segredos do final de semana.

Então se viu dividida entre a amizade e cumplicidade diaria com Valter, e o novo emprego mais sofisticado e com comissoes mais altas.

Então decidiu encontrar o amigo rapidinho no seu horario de almoço.

_Val, o que você acha que devo fazer hein? Na verdade gostaria de trabalhar um dia em cada lugar ... (risos). Sabe? Um dia na loja contigo e no outro no shopping. No outro no shopping e no outro contigo. Seria ótimo.

Antes de ir embora, Fernanda quis saber se a sorte estava por perto. Passou rapidamente na loterica, que estava meio lotada mas ela esperou. Resolveu fazer um joguinho por via das duvidas.

Ganhou.

Isso mesmo.

Ela ganhou.

Ganhou ganhou ganhouuuuu!!!!!!!!!

Fernanda, vi ro u ...
MI LI O NA RI A.

To chocada até.

Enricou.

Após receber a grana, conversou bastante com algumas gerentes de lojas onde ela já havia trabalhado.

E adivinhem o que ela fez?

AH, SEI LÁ ... deixa a mulher em paz.

A moça já é toda indecisa. Não sabe se vai ou se fica, não sabe se fica ou se vai.

Vem você querendo perturbar mais ainda ...

Desencana, saco.

Vai cuidar da sua vida.


Não foi ainda?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Outro conto de Natal

Célia era a irmã mais velha de uma familia de 5 filhos. A vida não foi fácil pra ninguem ali mas ela teve condição de estudar, ao menos. Le e escreve até que bem.
Por necessidade, acabou indo trabalhar no varejo, no setor de pacotes de uma grande rede. Tinha que aguentar muita coisa. Humilhação de pobre para pobre, que sempre acaba em baixaria.
Maria Célia Silva Santos todos os dias pegava um ônibus duas quadras de casa e descia no ponto final. Mais 1 lotação e chegava no trabalho. Já ia logo para o seu posto.

Ela sempre foi muito mal humorada e já não aguentava mais. Trabalhava no setor de pacotes de presente.
Era o caos.
Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais e até Dia da Amante.
Um monte de tralha que não ia servir pra nada, pensava ... mas tinha que embrulhar.

Teve uma senhora que comprou um kit de parafusos para o pai. Tinha 2 de cada tipo. Eram uns 14.
"_ Minha fia, embala bem bunito aí que é pro meu painho. Ele tá velhinho, tá com umas tremedeira nas mão, e por isso quero dá um presente pra ele ficá bem filiz!"
Célia pensou: mas que diabo o véio vai fazer com 14 parafusos? O homem nem força na mão tem. Mas o fato é que eles estavam em promoção. Muita gente levou. Mas só aquela senhora mandou embrulhar.

E tinha de tudo.
Tinha gay disfarçado comprando a G magazine e mandando embrulhar só pra fingir que era pra outra pessoa. Célia ficava "ferrada" porque sabia que mal o cara ia sair de lá já ia arrebentar o papel de presente que ela fez com tanto carinho. Desgramado mentiroso.

Teve também o cara que comprou um par de meias e mandou fazer dois embrulhos. Um pé em cada pacote. Disse que era uma brincadeira de amigo secreto. Brincadeira, brincadeira - e Célia ia se enchendo de trabalho .... e se enchendo DO trabalho.

Tinha o seu Oscar, que nem bem recebia a aposentadoria e ia lá. Comprava vários queijos e mandava embrulhar tudo. Já era dificil embrulhar comida. Mas não era só isso. Passava um ou dois dias, seu Oscar voltava. Dizia que tinha deixado os queijos na geladeira, embrulhado pra levar pra filha, mas que com a humidade o papel tinha molhado e rasgado. Será que ela não podia fazer de novo o pacotinho?

Célia já estava enlouquecendo.

Até que um dia entrou um menininho com R$ 1,80 na mãozinha perguntando se dava pra comprar um litro de leite para a vovó dele e fazer um embrulho bem bonito pra ela poder tomar remédio .

Disseram que nesse dia Célia chorou. Depois disso, não foi mais a mesma.
Contou a história pra todo mundo e sentiu muito não conseguir ter ajudado o menino. Seu salario também não permitia muita coisa e justo naquele mês estava devendo mais de R$ 100 para a prima.

Começo de Dezembro, na hora do almoço, enquanto a fila do embrulho ia engrossando, Célia conseguiu fazer 15 minutos de lanche. Dos 15 minutos, 10 passou na fila da Loterica. Resolveu jogar. Foi direto na Mega Sena.

E veio a surpresa: Célia era a nova dona da BOLADA quase inteira da MEGA SENA.

Em casa foi uma festa. Até Gesimar, seu ex-namorado (por quem foi apaixonada a vida toda) se reaproximou.
Numa terça feira de chuva, 3 dias antes do Natal, Célia estava atravessando a rua, quando viu a cena.
Uma senhorinha - andava devagar, tinha uma bengala bem fina e gasta. Tossia muito e a roupa do corpo quase não agasalhava.
Era ele. Ali, amparando a senhora.
O menininho do leite. Lembrou das covinhas que notou que ele tinha enquanto pedia o papel de embrulho.

Célia se aproximou. Seguiu os 2. Viu quando entraram no metrô e foi atras.
Seguiu o menino e sua avó até a porta da casa tão humilde que novamente Célia chorou. De longe não dava nem pra notar o choro, tanta era a chuva fina e descompassada que caia no seu rosto.
Nem dava pra notar a chuva, tanto era o choro que caia no seu rosto.
Se informou com a vizinhança e descobriu que a historia era ainda mais triste.

A senhora tinha um tumor sério e que já tinha tomado parte do corpo. Os médicos já haviam desenganado. Ela teria seu ultimo Natal. O menino, sempre triste e assustado, não sabia o que podia fazer. Com a aposentadoria da velha, pagavam o aluguel do barraco. Um vizinho disse que até onde ele sabia, sobrava menos de R$ 50 para a comida.

Célia fez o caminho de volta e jurou que aquela ia ser a atitude mais importante de sua vida.
Fez tudo o que tinha que ser feito burocraticamente sozinha.
Arrumou a papelada. Comprou uma casa para os dois. Fez acerto com o hospital do bairro - o menino e a senhora teriam assistencia para o resto da vida. Assim como o hospital, o supermercado também foi acionado. Receberiam cesta básica por longos anos.

Até hoje eles não ficaram sabendo quem fez essa boa ação, e parece que a senhora vem melhorando mes a mes. Os médicos não sabem explicar, mas o tumor já diminuiu 50%.

Há quem diga que a preocupação acelera a doença. Nesse caso talvez tenha sido verdade. Eu acredito.

O fato é que uma das partes mais bonitas da historia ainda está por vir.
No dia de Natal, um carro para na porta da casa do menino e da senhorinha. Era de um buffet. Entraram e entregaram muita muita comida para uma ceia inesquecível.

Menino valente aquele. Mas não se conteve.
Quem viu, disse que ele chorava de joelhos agradecendo ao Papai Noel e levantando os bracinhos para cima. Criança tem alma limpa, lavada. Igual à chuva de outro dia.

Célia viu tudo de longe e também agradecia aos céus pela oportunidade de ajudar. Entendeu que viver de forma amarga, não ia melhorar em nada sua vida simples e humilde.

Hoje em dia, ela entende que algumas pessoas não sabem direito entender as necessidades reais das outras, igual à senhora que levou parafusos para o pai.
Também tem gente, que vive como se o mundo fosse uma grande brincadeira, como o rapaz das meias de amigo secreto.
Há também, quem veja em um simples pedaço de queijo, um presente marcante.

E acima de tudo, hoje Célia entende que Deus, às vezes, escreve lindos contos.
Esse foi um deles.

DESTA VEZ, RESOLVI ESCREVER UMA HISTORIA DIFERENTE.
COMO AJUDAR ALGUÉM, COM BEM MENOS DE 15% DA MEGA SENA.
PROMETO QUE DE UMA FORMA OU DE OUTRA, COMEÇANDO COM OS MAIS PRÓXIMOS, EU MESMA VOU PASSAR A AJUDAR.
ÀS VEZES, 5% DO SEU SALARIO JÁ PODE MUDAR A VIDA DE MUITA GENTE ...
FELIZ NATAL À TODOS!

Obs. Inspirado em Um Conto de Natal, de Charles Dickens, uma das minhas historias preferidas.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bernardete, a feia.

Dessa vez a historia é de Bernardete, 29 anos, solteira. Também pudera. Dete, como assim era chamada pelas patroas, era a diarista mais feia que já havia passado pelo portão daquele edificio.

Chegou cedo, cheia de vontade de conhecer o apartamento onde ia trabalhar pela primeira vez.
Era a casa da nova patroa. Estava indicada pela Nalva, amiga do Biro lá do posto.

Dete já tinha quase todos os dias da semana preenchidos.
O que tinha de feia, tinha de boa limpadora.
O outro motivo para a agenda lotada era que as patroas de uma certa forma gostam de diaristas feias. Menor probabilidade de riscos no casamento.

O fato é que Bernardete, ao passar pela portaria, conheceu o amor. Deu de cara com Cícero, o filho do zelador. Foi amor à primeira vista. Mas só para Dete, porque Cícero deu de ombros. Abriu o portão com um movimento quase que automático.
Praticamente nem viu a moça.

Vai onde?
Apartamento 12 moço.
Momento ... Pode subir. A entrada é lá ó.

Naquele dia, a diarista nem viu o tempo passar. Lavou, passou, fez o jantar, cuidou do banheiro, lavou a louça. Mas tudo o que fez, fez com o pensamento em Cicero.

Ligou pra Nalva, louca pra contar que encontrou sua cara metade. Se Cicero ouvisse isso, poderia até processar a moça, de tão feia essa metade da cara usada na comparação.

Nalva não teve coragem de ser dura e nem realista com Dete. Disse que talvez o moço tivesse namorada, e que ela deveria esperar um pouco mais para se entregar à esse louco amor.

O fato é que Dete trabalhou no edificio por quase 3 anos.
E durante esse tempo Cicero não teve interesse nem pelo nome dela. Nem Cicero, nem ninguém da torcida do Corinthians.

De tanto tentar ser percebida pelo rapaz, ela ia toda semana na loterica. Era na verdade uma desculpa tonta só para poder passar pela portaria durante a tarde.

De tanto fazer jogos, no terceiro ano de trabalho, Dete simplesmente ganhou na Mega Sena! Pegou justo uma acumulada. Ô sorte. Alguma coisa de bom Deus tinha que dar a ela. O mundo andava muito injusto.

Largou o trabalho de diarista e correu para as clínicas de cirurgia plástica.

Seis meses depois, Cícero andava distraído pelo jardim do prédio quando viu a loira chegando. Cabelo comprido, liso, loiro. Cintura bem fina, uma costela a menos e pernas bem à mostra. Os seios, eram dignos de alguma mulher fruta. Fruta pesada e redonda, só se for.
Cicero parou tudo e foi abrir o portão para a moça.
Enquanto tirava os óculos escuros que escondiam os recem comprados olhos azuis, Dete respondeu:

_ Não Cícero, você já me conhecia. Só não tinha era reparado. E continuou: Eu, pelo contrário, reparei muito em você, mas só hoje é que dei conta de quanto faz falta um bom par de lentes de contato de grau. Agora que já comprei um, por favor, você pode entregar essas rosas no apartamento 12? É para agradecer Dona Vilma pelos anos de trabalho. E obrigada a você também. Se não fosse eu ter me apaixonado por você, não teria ido todos os dias na loterica só pra ficar passando pela portaria toda hora.

E saiu, batendo os mega saltos pelo chão, até entrar na BMW branca, com rodas cor de rosa, de onde se ouvia bem alto o som do ultimo cd de Amado Batista.

Dá-lhe Dete, a ex-feia!

quarta-feira, 17 de março de 2010

A vaga na garagem

Silvano mal entrou no prédio e pediu ao zelador para ver as vagas na garagem.
Dirigia bem até, mas queria ver as vagas porque estava pensando em trocar seu carro por um maior, e sendo assim, precisaria de um bom espaço.
A sorte é que o prédio dispunha de duas vagas por apartamento, o que fez Silvano fechar o negocio sem pestanejar.

Ok, Severino, vi as vagas. Isso. Sei. Não, vi sim. As paredes estão pintadas com os números do meu apartamento. Consegui achar facilmente, obrigada. Ah, sim, estou sabendo sim. As vagas são fixas. Isso é bom, Severino, assim não existe problema com vizinho!

Ou seja, vagas fixas, contrato assinado. Apartamento alugado.

Silvano se mudou em menos de 2 semanas.

Foram 3 meses de paz no apartamento. Elevadores sempre chegavam rápido e estavam quase sempre vazios. Os vizinhos da frente nunca faziam festas com som alto. Na varanda, sol quentinho durante o dia e brisa fresca à noite. Silêncio na rua e porteiros sempre atentos.

Até sexta feira passada.
Silvano chegou à tarde com seu carro, entrou na garagem como sempre fazia. Mas quando chegou à sua vaga, estranhou. O espaço da frente (sim, as vagas era marcadas uma na frente da outra) estava preenchido por um carro velho. Não era dele. Ele tinha um carro só. O que usava no dia a dia.

Pasmou. Ficou bege, como dizem por ai.
Na hora pensou: vai ver que tem algum mecanico ou eletricista consertando algum apê por aí e acabou estacionando por aqui.

Parou o carro na vaga de trás, fazendo com que esse tal carro da frente não pudesse sair sem que ele tirasse o dele.
Subiu, mal entrou no apartamento telefonou para o zelador.

Severino, tudo bem sim, obrigada. Você sabe que carro é aquele na minha vaga? Ah, sim, um Chevette. Na verdade não era bem isso que eu queria saber, Severino. Estou perguntando de quem é e o que está fazendo na minha vaga.
Como assim? Cê tá brincando ... que folgado.

As encrencas do mundo do condomínio estavam para começar. O antigo morador do seu apartamento, havia comprado um outro apartamento em outro andar. Como preferia a antiga vaga, resolveu passar a estacionar lá, ué. Afinal, Silvano tinha um carro só e isso não causaria incomodo.

Foram falar com o tal vizinho, Silvano e Severino - estavam mais para dupla caipira, mas isso não vem ao caso aqui.

Ao ser questionado sobre a decisão de parar o carro lá e ponto final, o vizinho nem deu bola. Para piorar, ainda resolveu dizer na cara de Silvano que quase não usava aquele carro, e que sendo assim, havia estacionado ali somente para guardar a vaga. E finalizou de uma forma bem cliche, mas que ele não imaginaria que faria com que Silvano tivesse uma idéia brilhante - Disse: _ Pois se depender de mim, nunca mais vou tirar esse carro de lá.

Bom, se é assim, pensou Silvano ...

Não sei se me contaram direito o final dessa historia. Só sei que se for como disseram, eu bem que gostei.

Uma semana depois o vizinho desceu para usar o carro. Ao tentar enfiar a chave no buraco e nada, o vizinho estranhou. Abaixou, tentou de novo. E de novo. E mais uma vez. Sem sucesso. Estava tampado.

Jogou água, nada. Lavou com sabão, nada. Alcool gel e liquido esquichados com seringas. NADA. Enlouquecido, o vizinho subiu sem saber o que fazer.

Ninguém nunca conseguiu provar, mas parece que Silvano entupiu o buraco da chave dos dois lados das portas do Chevette com cola tudo, aquela super mega power plus ... até ficarem totalmente vedados.
Dizem que o vizinho nunca mais incomodou e o carro acabou guinchado.
Que pena, afinal, "_ Se depender de mim ...".


Vocês devem estar pensando: essa lesada demora esse tempo todo pra atualizar o blog, e quando volta, esquece que as vinganças, segundo o tema do 15%, devem ser feitas usando parte do dinheiro ganho na Mega Sena.
Mas dessa vez, resolvi economizar a grana do Silvano. Existem certas coisas que não exigem dinheiro. Só criatividade ...

Voltei! Abraço a todos!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Será que agora acreditam?

Eugênia sempre dizia que não ia fazer isto ou aquilo porque estava no fim da vida.
Ah, pra quê comprar um edredon novo? Já estou no fim da vida.
Imagina que eu vou fazer implante dentário? Aguento mais um pouco. Já estou no fim da vida mesmo.


Se isso costuma ser indício de depressão, desmotivação ou simples conformismo não sei. Só sei que Maria Eugênia dizia sempre o mesmo. Mas a moça tinha outro motivo: era totalmente hipocondriaca. Acreditava sim no fim próximo.

Trabalhava nos correios e estava todos os dias com essa fala na ponta da língua para quem quisesse ouvir. Dor aqui, dor ali ... "_ai como eu sofro ..."
Falava isso há tanto tempo e tantas vezes, que quem ouvisse de passagem poderia estranhar ao reencontra-la viva, um mês ou dois depois.

_ Mas não é que a moça do Correio ainda está viva, Euclides? Sim, aquela que pensamos estar doente porque não parava de dizer que estava no fim da vida ... Está vivinha da Silva, Euclides.


Mas e a morte?

Eugênia sempre dizia que mais cedo ou mais tarde ela iria acontecer. Iria parar direto no caixão.
Os amigos, já não a convidavam para nenhum programa a longo prazo. De tanto falar parece que ficou na mente de todos que não adiantaria "programar um programa" porque talvez Eugênia não fosse durar até lá.

E também, do que adiantaria convidar? Ela sempre tinha uma duas ou tres doenças acontecendo ao mesmo tempo. Não iria com certeza à nenhum compromisso, a pobre.


Até que a vida findou-se mesmo.

Morreu alguns meses depois de ganhar na Mega Sena. Dinheirão. Disseram que foi difícil receber o premio. Parece que o RG estava muito velho e com manchas de xarope. Ai meu santo.

Após ganhar o prêmio, Eugênia ficava em seu apartamento comprando algumas coisas pela internet e fazendo seu estoque de materiais no quartinho dos fundos.

Rica e morta. Parece que a morte esperou Eugênia ficar rica, para enriquecer também. Enriquecer sua lista negra. Desgraçada.

Só sei que foi assim. No dia do enterro, os convidados e amigos ficaram sabendo o que tanto Eugênia comprou durante seu mês de riqueza.

Faixas, coroas, banners, santinhos e sua lápide. Todos traziam os mesmos dizeres: " _ E então amigos, será que agora acreditam?"

Mulherzinha rancorosa.


terça-feira, 25 de agosto de 2009

Pede passagem, pede.

Murilo sempre passava muita raiva no transito.
E quase sempre pelo mesmo motivo: gente que vem no maior "pau", na rua ou estrada, dando farol e seta na faixa da esquerda e pedindo passagem igual louco.

Uma vez foi um executivo playboy. Deu farol. De novo. E outra vez.
Que saco, pensou Murilo. Afinal, ele estava dentro do limite e sabia que um pouco mais à frente havia um radar. Mas não queria sair da faixa da esquerda porque as outras estavam muito lerdas. E tinha pressa.
O playbas lá - acho que tinha mais pressa ainda. Farol e seta. Seta e farol.
Murilo saiu da frente, fazer o quê? Mas que raiva.

Uma outra vez foi o Opalão preto. Sabe quando o cara finge que é da polícia e manda ver naquela sirene móvel comprada na Stª Efigenia? Murilo se deparou com um desses. O Opalão vinha há uns 160 km por hora. Certeza. E certeza também ia entrar na sua traseira se ele não tivesse dado passagem.

Mas no dia em que ele sentiu o sangue nos olhos foi com a Kombi cheia de freiras. Essa foi na Sena Madureira. Depois que acabou foi até engraçado. Mas na hora deu raiva pra valer. As freiras vinham feito loucas pela avenida.

Buzinavam e andavam fora da faixa delas. Murilo achou que estavam sendo perseguidas. Mas depois de assistir o jornal das 20h ficou sabendo do caso na integra. As freiras costumavam passar por ali sempre. E todo mundo sempre se esquivando das amalucadas.
Elas tinham costume de beber muito vinho nas missas. Um pouco mais do que Jesus conseguiria multiplicar.

Murilo sempre dizia para a namorada o que faria a respeito se tivesse muito dinheiro.
Parece que o ouço daqui:
_ Olha, Darlene (Darlene era conhecida por servir bem para servir sempre), se eu tivesse grana eu ia arregaçar meu carro nesses caras que tem essa mania de costurar no transito igual loucos e que ficam fechando a gente! Ah eu iria.

Dinheiro para pagar consertos ele teria. E para detonar quantos carros quisesse também. A idéia era só dar o troco para aquele bando de motoristas de Domingo.

Murilo jogava várias vezes por mes na Mega Sena. Em quase todos os jogos.
Um dia ganhou. E não teve dúvida com o que ia fazer com 15% da grana: comprou carros.

Sim, carros. O dinheirão é dele e ele faz o que quiser, are baba.

Comprou 07 carros usados e blindou.
Fora a camada de vidro inquebravel, Murilo brincou de customização: mandou colocar por fora dos carros vários espetos de aço com as pontas voltadas para fora.
Nos pneus mandou grudar canivetes que espetariam até a alma das suas canelas, se você passasse do lado. E atrás, colocou canos de ferro cilindricos. Uns 15.

Isso feito, foi pras ruas. Cada dia com um carro. E ficou só esperando. Na faixa da esquerda.

Passou um mauricinho louco com seu Audi brilhando. Farol e seta. Murilo só freiou. SCATAPLAF. Nunca se viu uma frente de Audi tão cheia de furos redondos. Até onde sei eram só 4 aros. Sorte do mauricio que a Audi ama air bags.

No dia seguinte a mesma coisa. E no outro dia e no outro, e assim Murilo deu o troco a quase todo mundo. Foram seis dias, seis carros blindados estourados e seis trocos bem dados.

Mas faltavam as freirinhas.
Murilo ficou à espreita. Quando viu a bendita Kombi branca cheia de hábitos marrom escuro, não se segurou. A Kombi veio encostando, saindo da faixa, encostando, e mais, e mais ... POW! Encostou.

Nunca se viu um pneu emitir um som tão alto ao explodir.

Murilo tomou o cuidado de fazer a coisa de forma a só dar um susto na freirada. Ninguém se machucou.

Mas dizem as más linguas que até hoje, se você procurar bem no meio fio, corre o risco de achar um ou dois terços.
To chocada.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O golpe da Neoskin

Paula tinha muitos pelos no corpo.
Que coisa ruim. Muito pelo no corpo nunca é agradável, a menos que você esteja falando de abraçar uma girafa de pelucia. No inverno.

Mas Paula tinha um plano. Conhecer os serviços da nova rede de depilação à laser do Brasil: Neoskin. Esse tipo de serviço é caro mas vale a pena. Aceita cartão, tá ótimo.

Foi logo entrando na primeira clinica que encontrou. Era bonita. Sofás e paredes traziam cores alegres de verão. Verão sem pelos.

Atendimento bacana, dermatologista de plantão.
Fez contrato de 12 sessões nas pernas, axila e virilha. E estava feliz da vida.
Primeira aplicação realizada, foi-se embora contente. Contente e melada, tanta pomada passaram nos locais da aplicação. Mas vale. Oh se vale.

Feliz e contente ficou uns 15 dias depois, quando todos os pelos cairam. Ai que alegria! Nem se podia crer. Mas a dermatologista avisou: Paula, querida, isso é ilusão. Esses pelos vão voltar a crescer e só vai se livrar mesmo deles após a 10 aplicação. Ai não voltam mais.

Ok. Mas naquele dia mesmo colocou um micro biquini e foi pra praia. Queria mostrar o que não tinha: pelos.

A cada sessão os pelos caíam e depois voltavam mais finos. Mas ainda tinha bastante.

O fato é que lá pela terceira sessão Paula começou a sentir dificuldade para marcar suas consultas. As atendentes da clinica sempre diziam que as maquinas estavam quebradas, e só no mês que vem talvez a situação voltasse ao normal.

Mas foi assim por 8 meses. Marca, desmarca, marca, desmarca.
Com as clinicas fechando as portas, não foi só Paula que ficou sem atendimento.

Ligava para a empresa, e nada. Ia na porta de uma; fechada. De outra; fechada também.
Viu na internet que a tal Neoskin já havia dado o mesmo golpe no Mexico, e agora pelo jeito, estavam fazendo isso no Brasil.

Em Agosto todas as unidades Brasil já tinham fechado de vez. Os contratos em aberto de atendimento? Não sei não. Por quê? O certo seria ressarcir os consumidores?
Ah, sim, e o coelhinho da Pascoa vai te trazer o quê ano que vem?

Mas Paula ficou lá. Sentada, peluda e p. da vida.
Olha, mais p. do que peluda.
Mas menos sentada.

Levantou, e foi à loterica.
MEGA SENA na cabeça.
GANHOU.

Divulgou para os 4 cantos que havia ganho na Loterica e que em nome dos ex clientes Neoskin ela resolveu pegar 15% da grana e investir na compra das unidades que estavam fechadas.
Ia levantar a empresa e ainda ganhar uma grana.

Tentou por 3 meses ir atrás do responsável pelo tal golpe para fazer uma oferta mas nada. A pessoa já devia estar nas Ilhas Caimann pelo jeito.

Anunciou no jornal, revistas, TV.

Até que um dia, envolta pela proposta indecorosa da grana, eis que surge, BELTRANA DA SILVA, a empresária mais odiada pelas peludas de plantão. A f. da mãe que deu o golpe da Neoskin.

Paula marcou reunião para tratar da negociação da rede de depilação à laser.
Segunda feira, meio dia.

Ás 13h00 a polícia chegou ao local, numa ação previamente combinada com e por Paula.
Beltrana da Silva saiu da sala roxa. E algemada.

Paula? Hoje já não tem mais um pelo no corpo, amiga. Se tratou com uma das dermatologistas mais TOP de Miami. Inclusive mudou-se para lá.

Mas deu o troco na Neoskin.

OBS. Esse texto foi escrito para os que assim como eu, caíram no golpe da Neoskin. Utopia? Não sei ... talvez somente uma idéia que possa um dia ser usada.

http://vitimasdaneoskindobrasil.blogspot.com/2008/12/as-mquinas-quebradas-da-neoskin.html